sexta-feira, junho 20, 2008

Sorte

Após mais um período de ausência, como já vem sendo hábito, aqui estou eu, com um espírito renovado após 2 semanas de férias, onde entre outras, consegui fazer uma das coisas que me dá mais prazer: ler...
Li alguns livros, como não podia deixar de ser "O Escafandro e a Borboleta" fez parte desse leque e devo dizer que, não surpreendentemente, superou o filme, apesar de considerar que seria impossível fazer melhor, mas passar um livro para a tela há-de ser sempre uma tarefa ingrata.


Mas de entre os livros que li, destaco alguns que gostei especialmente:

Cemitério dos Pianos - José Luís Peixoto












As Horas Nuas - Lygia Fagundes Telles












A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Estórias - Tim Burton












Sorte - Alice Sebold









Mas é sobre este último que vou escrever... Talvez porque pela sua carga dramática foi aquele que mais me comoveu, na verdadeira ascensão da palavra...
Há livros que nos agradam por diversos motivos, mas aqueles que geram sentimentos em nós, aqueles que nos aceleram os batimentos cardíacos, aqueles que nos fazem sentir medo, pânico, insegurança, esses sim, marcam! Ainda mais quando temos noção do que o que estamos a ler não é ficção...

Tudo começa da forma mais crua. Invulgarmente, ficamos presos logo a partir das primeiras linhas. De repente esquecemos que estamos a ler, entramos directamente no cenário construído com pormenores e detalhes aterradores, capazes de nos fazer gelar. Sentimos medo, dor, repugnância... Nas páginas que se seguem confrontamo-nos com as sequelas físicas, mas sobretudo emocionais da autora, vítima de violação, bem como das pessoas que com ela convivem...
Esta história contada na primeira pessoa é sem dúvida um relato impressionante de alguém que teve a força e coragem de assumir e relatar a sua história, que sempre lutou pela justiça e que em tantas vezes fingiu estar bem, mesmo sabendo que ficaria marcada para sempre...

Queria deixar um enxerto deste livro aqui, mas como achei que umas linhas seriam sempre nada, optei por deixar apenas um poema que Alice escreveu para uma aula (p.139):

Se te apanhassem
o tempo suficiente
para eu ver novamente essa cara
talvez conhecesse o teu nome.

Podia deixar de chamar-te "o violador"
e começar a chamar-te John ou Luke ou Paul.
Quero deixar crescer o meu ódio.

Se te apanhassem, podia pegar
nesses tomates encarnados e compactos

e separá-los, com toda a gente a ver.
Já tenho um plano do que faria
para uma morte agradável, para um demorado e gentil fim.


Primeiro,
dava-te acertados e forte pontapés com uma bota,
ficava a observar-te enquanto te torcesses e te escorresse
um fio de sangue escarlate.
A seguir,
cortava a tua língua,

já não podias praguejar ou gritar.
Apenas um rosto de dor a falar,
a mostrar a tua grande perplexidade.
Terceiro,

arrancava aqueles doces
olhos boi com os vidros em que me obrigaste

a deitar? Ou devia disparar, com uma arma,
mesmo para dentro do joelho; onde dizem que

a rótula se esmigalha imediatamente?

Vejo-te agora,
os teus dedos a tirar o sono
desses olhos cegos para a vida, enquanto eu não consigo

descansar. Preciso do sangue da tua pele
nas minhas mãos. Quero matar-te
com botas e armas e vidro.

Quero foder-te com facas.

Vem ter comigo, vem,
Vem morrer e deitar-te ao meu lado.

E porque quando gosto realmente de um livro, "vasculho" a obra desse autor, acabei por descobrir que o segundo livro desta autora, de nome "Lovely Bones"(em Portugal "Visto do Céu") vai ser adaptado ao cinema pelo Peter Jackson e tem data prevista de lançamento para Outubro de 2009, o que dá tempo para comprar o livro e o ler! ;)

3 comentários:

Cisne branco disse...

Ora aí está uma coisa que tenho de fazer: por a leitura em dia!!! É bom ver-te de volta...

Anónimo disse...

Seu blog é mt show. Layout legal.
Muito bom os livros.
Valeu ate

Escabroso disse...

Ódios sedentos assim são apaixonantes, não são?...

Uh?

O que é que eu acabei mesmo de escrever?

Bah...


Cheers.