domingo, julho 24, 2005

Rest in Peace...

Pela morte vivemos, porque só somos hoje, porque morremos para ontem.
Pela morte esperamos, porque só poderemos crer em amanhã, pela confiança da morte de hoje.
Tudo o que temos é a "Morte", tudo o que queremos é a morte, é morte tudo o que desejamos querer...

Fernando Pessoa


Porque é que continuamos a sofrer com a morte, se é a vida que nos faz sofrer?
Não será porque a ausência de alguém que nos deixa é dolorosa e a incapacidade de preencher esse espaço é permanente?!
Que o tempo camufle esse sentimento para os que continuam a viver… e a sofrer…

Especialmente para duas pessoas que estão a sentir
intensamente a dor e o vazio deixados pela morte

sábado, julho 16, 2005

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

sexta-feira, julho 15, 2005

Como tu...

Quando foi a última vez que ouviste o tua própria voz?
Não grites, fala comigo! Não uses as palavras com desprezo, como depósito da tua raiva. Quando é que paras de agir sem pensar e pensar sem agir? Quando é que recolhes esse ódio que te afunda e percebes que não estás sozinho?!
Pára!
Queres aprender a ser feliz, na incerteza que a felicidade exista?...
Queres sonhar na desventura de nunca poderes concretizar esses sonhos?...
Ouve o teu coração (entenda-se consciência), pensa que não és o único, o único que vive, que sofre e que um dia vai morrer…
Todos temos esse Karma… Como tu…
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a place for eternal rest....

quinta-feira, julho 14, 2005

Durmo ou Não?

Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.

Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.

Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
Fernando Pessoa