quinta-feira, outubro 22, 2009

António Lobo Antunes - Grande Entrevista

Para quem não viu, aqui fica a "Grande Entrevista" com António Lobo Antunes.

Quem me conhece sabe que tenho uma profunda admiração por este escritor.
Para além de adorar os livros que escreve, gosto imenso de ver as entrevistas que dá, gosto de saborear as analogias, as metáforas, as ideias e a clareza com que as exprime, sempre preservando a "virgindade do olhar"...

Arrisco-me a dizer que é a pessoa mais PERFEITA, que conheço, sem conhecer...

http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?tvprog=1436&idpod=31010&formato=flv

quinta-feira, agosto 06, 2009

quarta-feira, abril 22, 2009

Clara Ferreira Alves

Na semana passada recebi um e-mail com um artigo de Clara Ferreira Alves, publicado na revista Única do Jornal Expresso.
E devo dizer que subscrevo integralmente tudo o que ali está escrito, o que me surpreende dado que nunca fui muito com a cara da dita Sra... ;)

Mas vale MESMO a pena ler... Aqui fica:

"Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido.

Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.


Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos. A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada. Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.


Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?
Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?
As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens, de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa."

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

segunda-feira, março 09, 2009

Twitter



Conheci o Twitter através de um programa da Prova Oral, cujo convidado era o Daniel Catalão (jornalista da RTP), acérrimo defensor do Twitter.
E com tantos elogios, não resisti e tentei descobrir o que era este programa. E agora também eu estou rendida...

Por isso convido-vos a passar por lá e conhecer melhor as suas funções: http://twitter.com/

Eu estou aqui: http://twitter.com/SynneSoprana

Até já!... ;)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

O Arquipélago da Insónia

Acabei de ler o último livro de António Lobo Antunes... Devo dizer que só veio reforçar a minha ideia (leia-se certeza) de que ele é o MELHOR ESCRITOR PORTUGUÊS...

E como me é difícil falar sobre as coisas/pessoas de que mais gosto, deixo aqui uma critica literária deste mesmo livro de Tim James Booth, que expressa admiravelmente aquilo que eu penso deste escritor e deste livro...



«- Somos dois homens rapaz
a cerrar a tampa sobre mim e a afastar-se nas ervas para eu não acordar.»
António Lobo Antunes, O Arquipélago da Insónia


Ao pousar o livro sobre a secretária ainda tremo quando me lembro que este exemplar em particular me foi entregue em mãos pelo autor, assinado e dedicado, no primeira (talvez única) oportunidade que tive para o conhecer. Ainda me ressoam nos ouvidos as palavras curtas e, apesar disso, tão longas que trocamos, o sorriso inesperado, o elogio sussurrado, a minha voz a tremer, as minhas mãos a tremer, o livro a tremer quando lho estendi, o livro seguro quando me devolveu, uns poucos minutos que vão ficar para sempre na minha memória e umas palavras que vão para sempre ficar escritas no meu livro, pela mão do génio Lobo Antunes, quem sabe próximo Nobel da Literatura português, já que é eterno candidato. E um conselho, um conselho que guardarei para sempre na sua voz sumida e pensada, “Nunca empreste livros”, nunca os empresto caro doutor.

Isto para dizer que ler este livro não estava no meu plano de leitura, como disse anteriormente, primeiro queria aprofundar o início de carreira de Lobo Antunes, no entanto este Arquipélago pediu independência da minha jurisdição e em boa hora o fez. Não sou, certamente, o homem indicado para comentar a obra deste senhor se nem sequer um quarto daquilo que escreveu, e estou a falar apenas da ficção, fui ainda capaz de ler, por essa razão evitarei comparações, ainda que inevitáveis, com as obras que antecederam este romance. Podia bem começar por aí, contestar a eterna designação de romance que nada quer dizer e que dificilmente encaixa neste livro, mas que encaixa porque o livro não entra em mais lado nenhum. Mas fujo ao que interessa.

O Arquipélago da Insónia é a mais recente obra de António Lobo Antunes. É uma visão plural da história de três gerações de uma família disfuncional (como tantas nas histórias de Lobo Antunes) dona de uma herdade algures no Ribatejo, desde o seu crescimento pelo braço do Avô e do seu amigo de infância que se tornou no feitor, até ao declínio e à inexistência com que chegou aos seus netos. Disfuncional não chega para descrever esta família, se existe um avô com um filho que não respeita, “Idiota”, um filho casado com uma ex-empregada da casa que era tomada pelo pai, como todas as outras, um neto que é autista e filho do ajudante de feitor, outro que simplesmente não quer ser, uma avó que tremia tanto como a chávena no pires e matava coelhos com uma paulada no cachaço, uma mulher que morreu em criança e a própria morte como prima da família. É isto o livro e nada mais, a história de uma família sem história, igual a tantas outras e diferente de todas, singular porque nasceu de uma mente singular e banal porque vemos em todos os membros do clã facetas nossas. Aparentemente Lobo Antunes aproxima-se cada vez mais do seu objectivo de encher os livros de nada, este é um livro carregado dele, de palavras que não existem, e que não precisam de existir para serem lidas, de história que não existe, e não precisa para ser conhecida, de morte que existe, e não precisava de existir para lá estar.

Durante dois terços do livro vemos a família pelo olhar do autista. E está brilhantemente bem composto. Ninguém sabe como funciona a mente de alguém assim, mas António Lobo Antunes não estará muito longe de um pensamento verdadeiro. Uma alucinante sucessão de tempos e datas e factos e histórias e imaginação e palavras soltas e tudo o mais o que pode passar por uma mente diferente. Talvez uma das mais intensas partes do livro será o último capítulo da parte II, em que o personagem se revela demasiado frágil para contar exactamente o que se passa, recorrendo inúmeras vezes a factos sobre cegonhas para se acalmar, entrecortando o discurso narrativo (como tantas vezes acontece ao longo do texto) com factos inúteis sobre as aves, até que atinge o clímax final, que não é mais do que um ponto temporário que se vai repetir ao longo de toda a terceira parte por diversas vezes vistas por diversas pessoas.

Por este olhar vemos nós grande parte da saga familiar e durante todo esse tempo o leitor não pode deixar de se sentir ligeiramente perdido, sem saber muito bem o que está a acontecer, e ao mesmo tempo, maravilhado. Mas claro, sendo Lobo Antunes, não podia ser uma só visão a contar-nos a história e no terço final sucedem-se os relatos diferentes das diferentes pessoas, e tudo, subitamente, começa a ficar tão claro e tão repentinamente claro que ficamos embasbacados com o génio do senhor que parecia escrever frases quase desconexas em tudo.

Como já noutros livros do autor acontecia, o título, para mim, só faz sentido no fim. Mesmo nunca usando as palavras “arquipélago” ou “insónia” durante o texto, não é difícil chegar à conclusão de que todos são ilhas que vagueiam solitárias, presas na localização e no sangue, mas solitárias e acordadas pela noite, e pela morte, dentro. Lobo Antunes faz-nos um espelho feito de retratos, os retratos que estavam na sala da casa onde o autista via os parentes que rapidamente se transformavam em pessoas ao seu lado, um espelho onde vemos o nosso contínuo desejo de permanecer acordados. Eternamente acordados, perhaps?

Chego ao final desta recensão com um sentimento de incapacidade indescritível. Queria dizer tanto mais sobre este livro e nada mais me sai. Sinto-me pequeno, muito pequeno, perante um dos maiores nomes da literatura mundial e um dos maiores mestres da palavra portuguesa. Tal como me senti quando lhe apertei a mão há uma semana e pouco. Tal como me vou sentir sempre que tentar falar sobre ele ou a sua obra, ou sobre ambos, sendo ambos um, porque se confundem Lobo Antunes e os livros que escreveu, talvez mais do que o próprio autor desejaria.

É, sem dúvida, um livro inquieto de uma mente genial. Poderia escrever pela noite dentro e mesmo assim não seria capaz de reproduzir aquilo que o livro me disse sem, de facto, dizer nada. A verdade é que para um homem encher um livro de silêncio é muito fácil. O difícil é enchê-lo de silêncio cheio de palavras. Isso, António Lobo Antunes consegue-o magistralmente.


por Tim James Booth
05.11.2008

in http://www.ala.nletras.com